sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O infinito possível

Por Emerson Souza Gomes (*)
Magritte

“Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... levarei amanhã, a pensar em depois de amanhã e assim será possível, mas hoje não. Não, hoje, nada; hoje não posso.” O excerto das aspas é de um poema de nome Adiamento. É de um quintana chamado Pessoa. Cabe como uma luva – lugar-comum, deleature – para quem está sentado, ouvindo aquilo que deve ser feito, mas não o faz porque não o coloca à sua frente quando acorda na manhã – lugar-comum, deleature –; ou de quem está assistindo a palestra; que tem retórica de refrão de bolero; que tem acorde de música ligeira.

“- Escrevo quatro artigos por mês. Falo para 300 pessoas por mês. Publico um livro por ano. Tem que ter plano!“ – Era a voz do palestrante no seminário. Ele diz que faz. Ele diz que consegue. Ele faz tudo que eu, você, ele ali, sabemos que... Ele deve trabalhar dezenas de horas por dia para isto. Eu, você, ele ali... trabalhamos dezenas de horas por dia para...

Tem um blefe presente nas palestras. Já fui pra-cima-e-pra-baixo assistindo palestras. – Eu, você, ele ali, ela também... qual é a cor da cor colorida?!... – Mas do “pouco” do blefe, há o infinito possível. Há a nesga, o átimo, a meia-hora por dia, quinze minutos apenas.... para alimentar o animalzinho... inquieto... que mora no infinito.

Nas perorações, o último golpe da retórica de palestra; do refrão de bolero; da música ligeira: “- 1% dos advogados da cidade está nesta sala, hoje”. Traduzindo: “- Parabéns!” [ponto final ou melhor]

Eu peroro

Tu peroras

Ele perora

[Ela também]

- No infinito possível, sonhar, mesmo, só nos planos

[?!]

(*) Emerson Souza Gomes é advogado, especialista em Direito Empresarial e sócio da Pugliese e Gomes Advocacia

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