quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A mais pura beleza oca

Por Emerson Souza Gomes (*)
foto: site Câmara dos Deputados

Em um lugar inexato onde o mar é glauco como em pedra de mármore, cruzam-se as hélices de um helicóptero. É que sem viático, partiu. Ulysses não desenhou nos cirros o castelo do sonho. Pelo contrário, assentou tijolos no cotidiano e escreveu uma frase de peito, entusiasmo, impulso que pretende ser tão infinita quanto os traços de Niemayer. “– Brasília!” – O que faz célebre a obra de um artista?!... A mais pura beleza. Com respeito aos traços do Arquiteto, Brasília seria a mais pura beleza oca se não tivéssemos a Constituição. Em 05 de outubro celebra-se a promulgação da Constituição Federal da República.

Contam – sem apelo ao cômico – que sobre o lombo de um burrico, em 07 de setembro, D. Pedro declarou a independência do Brasil. Aconteceu no calendário do mês passado eis que ainda bradamos no Ipiranga, por vezes em um cavalo branco, por vezes sobre o lombo de um jumento; e a quem interesse saber – tim-tim-por-tim-tim – a história basta ler a Constituição, que o mercado é patrimônio nacional e concluir pelo quadrúpede. Chauvinismo?! Sim. Quando não se é um cidadão da Antuérpia tudo é chauvinismo: sem o 0800 as cartas demorariam um romance e sem o pedágio as praias seriam um idílio. 05 de outubro é um dia de protesto.

Mudando o discurso; a corrupção causa mais tédio do que indignação. Tanto para os políticos sérios como para os corruptos, a corrupção passa a ser algo interessante eis que uma forma de perpetuar o poder é gerar descrédito na política. A seriedade, ao seu turno, ela não requer inteligência. Para os sérios a Constituição é didática: “democracia”. Ela causa dignidade. Neste momento importante da história legislativa do país – não me refiro à reforma tributária, trabalhista, previdenciária... – a reforma política é o caminho para potencializarmos o princípio democrático e com ele, resgatarmos, sobretudo, o federalismo da folha de papel da Constituição; repensarmos a representação das regiões no Congresso: basta de dar para depois pedir! De outra parte se as coisas não mudam é que vamos morrer de tédio – alguns poucos, ingênuos – e para evitar a errata do ledo engano: mais inteligentes que os corruptos são os sérios.

Por fim; em um lugar... como em pedra de mármore...... uma frase... peito... infinita... traços do Arquiteto... a mais pura beleza:

“– Declaro promulgada o documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil. Que Deus nos ajude que isto se cumpra!” (sic Ulysses Guimarães, na Assembléia Constituinte de 1988)

Emerson Souza Gomes é advogado, especialista em direito empresarial e sócio da Pugliese e Gomes Advocacia

Nenhum comentário:

Postar um comentário